Considerando que o vinho do Porto vintage requer fruta extremamente madura e taninos elevados para a sua riqueza e longevidade, pode ser surpreendente que um vinho seco não fortificado beneficie dos mesmos locais e clima que um grande vinho do Porto.
Mas é essa a opinião de Prats, francês e antigo proprietário do Château Cos-d’Estournel, em Bordéus, que se envolveu em 1999 num ambicioso projeto de vinhos finos na região do Porto – o Douro – quando iniciou a marca de vinhos de mesa Chryseia com a Symington Family Estates, a empresa por detrás de marcas fortificadas famosas como a Graham’s e a Dow’s.
Em Londres, na segunda-feira desta semana, onde mostrou amostras de Chryseia desde 2001, disse: “Hoje estou mais convencido do que nunca de que as melhores vinhas para o Vinho do Porto são as melhores para o vinho de mesa, e as melhores colheitas para o Vinho do Porto são as melhores para o vinho de mesa”.
A diferença, acrescentou, resulta das épocas de colheita: “Para o vinho do Porto, é preciso colher mais tarde”.
As uvas para o Porto Vintage tendem a ser provenientes de vinhas perto do rio Douro com uma exposição a sul para garantir que os cachos recebem o máximo de luz solar e calor possível, enquanto os solos tendem a ser baseados em xisto, que tem uma elevada capacidade de retenção de água para evitar o stress da videira durante os longos verões quentes da região. Dois desses locais, a Quinta de Roriz e a Quinta da Perdiz, são a fonte de uvas para o Chryseia, que, segundo Prats, atingiu o seu auge num ano como 2011.
No entanto, referiu que é importante vindimar a casta Touriga Nacional – componente fundamental do Chryseia – “muito cedo num ano quente, pois pode amadurecer rapidamente”, enquanto a Touriga Franca, que também é utilizada para o vinho, deve ser vindimada tardiamente num ano fresco, “caso contrário pode ficar verde”. “Este tipo de conhecimento leva tempo a dominar”, acrescentou.
Prats referiu ainda que, devido à importância de selecionar o momento ideal de vindima de cada casta para a produção de vinho de mesa no Douro, era fundamental trabalhar com blocos de vinha dispostos de acordo com o tipo de uva. Consequentemente, referiu que não era favorável à produção de vinhos de mesa a partir das vinhas muito velhas do Douro, que tendem a ser misturas de campos com muitas uvas diferentes no mesmo local. “Sou contra a tradição das plantações de variedades mistas, porque assim não se colhe nada na altura certa”, declarou.
Acreditando na qualidade dos vinhos de mesa do Douro, afirmou que já se fazem grandes tintos na região e que agora é só uma questão de dar a conhecer a sua existência a mais pessoas. “Temos os vinhos, só precisamos de ser reconhecidos”, afirmou.